Poema de Patrícia Galvão (Pagu) Canal.
Patrícia Rehder Galvão, conhecida como Pagu, foi uma escritora, poetisa, diretora, tradutora, desenhista, cartunista, jornalista e militante da política brasileira.
É um ícone do feminismo.
Viveu sob regras próprias e deixou como legado a ideia de que as mulheres podem, e devem, ser livres.
Nasceu em São Paulo em 1910 e faleceu em 1962, aos 52 anos de câncer de pulmão.
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Poema: Canal
Poeta: Patrícia Galvão (Pagu)
Voz: Jéssica Iancoski | @euiancoski
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Patrícia Galvão (Pagu)
Nada mais sou que um canal
Seria verde se fosse o caso
Mas estão mortas todas as esperanças
Sou um canal
Sabem vocês o que é ser um canal?
Apenas um canal?
Evidentemente um canal tem as suas nervuras
As suas nebulosidades
As suas algas
Nereidazinhas verdes, às vezes amarelas
Mas por favor
Não pensem que estou pretendendo falar
Em bandeiras
Isso não
Gosto de bandeiras alastradas ao vento
Bandeiras de navio
As ruas são as mesmas.
O asfalto com os mesmos buracos,
Os inferninhos acesos,
O que está acontecendo?
É verdade que está ventando noroeste,
Há garotos nos bares
Há, não sei mais o que há.
Digamos que seja a lua nova
Que seja esta plantinha voacejando na minha frente.
Lembranças dos meus amigos que morreram
Lembranças de todas as coisas ocorridas
Há coisas no ar...
Digamos que seja a lua nova
Iluminando o canal
Seria verde se fosse o caso
Mas estão mortas todas as esperanças
Sou um canal.
(A Tribuna, Santos, 27 de novembro de 1960)
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