Poema de Aline Bei A Espera.
Aline Bei é uma escritora brasileira. Depois de ganhar o Prêmio Toca, criado pelo escritor Marcelino Freire, escreveu em 2017 seu primeiro romance, O Peso do Pássaro Morto. Com ele, foi a vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura de 2018 na categoria Melhor Romance de Autor com Menos de 40 anos. Nasceu em São Paulo em 1987, atualmente está com 34 anos.
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Poema: A Espera
Poeta: Aline Bei
Voz: Jéssica Iancoski | @euiancoski
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A Espera
o sol deslizava pra baixo da terra, como se agora a sua missão fosse iluminar o mundo dos mortos. no entanto, mesmo com a chegada da noite, fazia um Calor
terrível e
o suor escorria
dos rostos bronzeados das mulheres na varanda.
por estarem de frente e serem irmãs, uma parecia o espelho da outra
enquanto uma Mosca sobrevoava
aquelas cabeças, sempre à procura de qualquer coisa inominável.
uma das mulheres embaralhava as cartas
enquanto a outra olhava o Horizonte
e sentia uma brisa no rosto, tão rara naquela época do ano que talvez fosse apenas imaginação.
uma criança apareceu na porta,
esfregou os olhos.
as mulheres começaram o jogo
enquanto o pequeno se deslocava
pela varanda
estalando a madeira
com os pés.
escalou as pernas da mãe, se aconchegou em seu colo.
o papai já vem, a mulher sussurrou
acariciando
os cabelos do menino, o bebê fechou os olhos
como se tivesse morrido.
as duas mulheres eram pessoas simples, bastava ir ao banheiro da casa para confirmar o que eu digo. um pequeno espelho com moldura de plástico era tudo o que elas tinham, além de um batom vermelho
presente
que ganharam
da mãe
e que foi guardado
talvez pelo desejo de fazer o Tempo parar
naquela infância
em que a vida parecia ter algum significado por trás dos gestos e tudo era Lento, mesmo quando elas corriam.
a mulher sem criança no colo acendeu um cigarro e olhou para as suas cartas.
depositou uma delas na mesa
e enquanto a irmã pensava na próxima jogada
ela se levantou para acender a luz. notava-se que um dia fora bela, e ainda tinha um brilho escondido no fundo do rosto que poderia, por que não? ser despertado
caso encontrasse as mãos pequenas e hábeis de um novo amor.
ela aproveitou para checar
o seu bebê
que estava assistindo televisão
com a sobriedade de um homem feito, herdou isso
do Pai.
quando o menino percebeu a presença materna, se virou.
tinha o rosto
desfigurado, com a pele toda voltada
pra dentro, era como se o Fogo
ainda estivesse lá.
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